Escrito por Fernando Lino publicado no Jornal de Peniche | |
31-Mar-2009 | |
Acho espantoso que numa terra de mar, como Peniche, ninguém se insurja contra uma das práticas de pesca mais criminosa para a fauna e flora marinha: o arrasto. Quando a União Europeia restringe as quotas de captura de algumas espécies de pescado, aqui del' rei. Juntam-se armadores, sindicatos, enfim, as corporações do imediatismo – que não pode ser, que morremos todos à fome, que vai haver desemprego, que a indústria a montante e a jusante, se vai ressentir; a cartilha da praxe. Quando o Canadá (e muito bem) limita a pesca do bacalhau, todos se erguem em protesto – que querem destruir a nossa tradição gastronómica. Porém, sobre a pesca do arrasto que arrasa tudo por onde passa e que pouco aproveita daquilo que captura, há um silêncio pro-fundo-abaixo. Sabendo hoje que o mar não é um recurso inesgotável e que tem de ser praticada uma exploração que não desequilibre irreversivelmente os ecossistemas, seria premente pressionar a administração central a proibir esta técnica de pesca. Por uma vez, seria interessante que fosse Portugal a proteger os seus mares não ficando à espera que a Europa decida sobre aquilo que todos os estudos pacificamente apontam como sendo uma pesca altamente predadora dos fundos marinhos – o arrasto. Nesta matéria, o pioneirismo assentava-nos bem, a nós que há muuuitos séculos atrás, fomos vanguarda nos mares e que tanto gostamos de citar tal memória colectiva. Parece que é preciso desaparecerem as galinhas, da face da terra para que todos choremos saudosamente os ovos das ditas, estrelados, cozidos, ou em omeleta. Num momento em que investigamos a plataforma continental, por forma a reivindicarmos a extensão da zona económica exclusiva, seria pertinente provarmos que a sabemos gerir e explorar sustentadamente. Que melhor exemplo poderíamos dar, senão o de termos a iniciativa de proibir na ZEE nacional a pesca do arrasto? Que me desculpem os herdeiros de França Morte e a sua capacidade de iniciativa e de investimento em unidades de pesca modernas, mas todos ganhávamos mais com a sua conversão. A bem da nação marinha. |
09/01/2010
Mas o Arrasto, Senhor!
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Concordo inteiramente! Apenas me parece injusto que se diga que em Peniche ninguém se insurge contra esta arte de pesca destrutiva. No estudo MARHE que há uns anos coordenei e realizado pela ADEPE e a colaboração da Universidade Nova de Lisboa, já analisávamos os efeitos negativos da pesca de arrasto.
RépondreSupprimerTambém valerá a pena saber que recentemente a PONG-Pesca (Plataforma de Organizações Não Governamentais Portuguesas sobre a Pesca) realizou a sua primeira acção pública associada a este tema com a apresentação do filme "The End of the Line" seguida de debate (http://pongpesca.wordpress.com/the-end-of-the-line/).
Mas concordo com o Fernando Lino que Peniche pode fazer muito mais ainda para terminar com este processo de destruição do nosso ambiente natural, ambiental e social.
Obrigado pelos pertinentes comentários, António.
RépondreSupprimerFernando Lino